quinta-feira, 3 de outubro de 2013

A química que une cães e seus donos

Pesquisadores dizem que a relação entre cachorros e humanos também é regida pela ocitocina, hormônio responsável pelas relações afetivas e pelo prazer.
por Murilo Roncolato



Você já deve ter ouvido falar da ocitocina. Conhecida como "hormônio do amor", ela (que também é chamada de oxitocita) promove a afeição, diminui o stress e a pressão arterial e incentiva o instinto de proteção. A ciência já mostrou o quanto esse hormônio é importante nas relações humanas - mas, agora, ficou provado que ele também atua na relação entre humanos e cachorros.

Segundo os pesquisadores Brian Hare e Vanessa Woods, da área de evolucionismo da Universidade de Duke, nos Estados Unidos,  situações entre humanos em que se libera ocitocina são largamente conhecidas – “é o que faz você se sentir bem quando tocado por uma pessoa querida, ganha uma massagem ou tem uma boa refeição”, escreveu a dupla. A surpresa é notar que as mesmas situações acontecem entre espécies diferentes. Hare e Woods são autores do livro “The Genius of Dog” (sem edição em português) e do portal Dognition.



Os pesquisadores usaram três pesquisas para compor a base de dados que embasa o livro – que explora os níveis desconhecidos da inteligência canina. Uma delas foi feita por Miho Nagasawa, do departamento de biotecnologia da Universidade de Azabu, no Japão, analisou a troca de olhares atenciosos entre 55 pares de cachorros e seus donos. Seus resultados mostraram que quanto mais tempo o cão se mostrava atencioso com o dono, mais oxitocina era liberada. Não por coincidência, esses donos se consideram mais felizes com a relação que tinham com seus animais de estimação.

Outro estudo investigou uma interação com mais contato - e por contato entenda baba. Pelos resultados da pesquisa de Linda Handlin, sueca da Universidade de Skövde que também estuda as relações humano-humano, principalmente no caso da amamentação; brincar, ter contato, ser lambido (há quem considere lambida uma espécie de beijo canino, mas preferimos deixar a decisão sobre isso a seu critério) gera o aumento não só de ocitocina, mas a queda de cortisol (relacionado ao nível de stress) e do batimento cardíaco.



Mas aqui há um dado importante: as melhores bioquímicas só se apresentam aos donos que encaram a sua relação com o animal pelo viés prazeroso da situação e não aos que consideram os cuidados e o trato como uma espécie de fardo, de obrigação.

Em um outro experimento, realizado na Universidade de Pretoria (África do Sul), donos e cães foram colocados em uma sala por 30 minutos. Depois, amostras de sangue comprovaram queda de pressão sanguínea, aumento não só de ocitocina, mas de uma série de hormônios importantes como betaendorfinas (ligadas a sensações de bem-estar e e alívio de dor), a prolactina (que promove a produção de leite e aumento das mamas), feniletilamina, que libera dopamina (relacionado ao prazer, atua no aprendizado, afeta o humor e também a memória e o sono). A sensação de prazer a quantidade de reações bioquímicas geradas pelo contato com animais de estimação (os testes foram feitos somente com cães) são consideravelmente maiores, por exemplo, do que ler um livro.

Mas não se anime em colocar um bicho novo em casa só para ser uma pessoa mais feliz. Animal não é livro, não se guarda na estante e demanda uma série de cuidados. Mas pode fazer muito bem para o dono.




(As fotos que ilustram essa matéria são de donos de cães e seus animais de verdade. São fotos postadas no Flickr com licenças que permitem compartilhamento)

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